segunda-feira, 8 de abril de 2013

MIRANTE A HISTÓRIA (texto publicado na Mirante 30 anos n° 79)



MIRANTE  -  TRÊS  DÉCADAS  DE  INDEPENDÊNCIA
1.982- 2.012


O fim do Grupo Picaré (escritores santistas dispostos a romper com o academicismo reinante, no início dos anos 80, levando a poesia ao contato direto com o público) e de sua revista, não significou o cessar das atividades literárias. Ao contrário, ainda pertencendo ao grupo, eu e Antonio Canuto, poetas líricos assumidos, sentíamos necessidade de criar uma revista diferente e daí nasceu Mirante.  Com uma linha editorial totalmente caótica, mas ordenada, não tínhamos nem preocupação com linha editorial a seguir. De forma experimental, feita no formato de folhas de sulfite A4, a intenção primordial era a de divulgar a literatura, fosse ela  regional ou universal.
E em seu primeiro número (na verdade o número zero), Mirante nem posava de revista, mas sim como um módulo de divulgação da poesia lírica. Queríamos - ingênuos, mas autênticos e espontâneos – atingir o sentimento das pessoas e na capa a versão de música de John Lennon tentava traduzir esta intenção, ao mesmo tempo em que anunciávamos o retorno do lirismo. Isto num período em que a repressão militar impunha sua tirania e censura a todo tipo de manifestação artística.
E com espírito provocativo, Mirante dizia no início de seu editorial:
“Lirismo? Epa, o que é isso? Alguém torceu o nariz. Até parece coisa de quem não tem o que fazer. Vai liricar, vagabundo? Quac! Em plena recessão!!! Pois é, prezado bicho, com a inflação  correndo mais que o carro do Piquet, com toda essa politicagem jorrando na televisão dos consumistas esquecidos de que são feitos de carne, osso, coração e alma (isso existe?), eis nós, seres petulantes, querendo espalhar um pouco de lirismo nesse falatório, não somente político mas em todos os níveis. Estamos conscientes  de nossa santa ingenuidade porém não somos tolos. Ao contrário, estamos vivos e participantes na vida, no que ela tem de mais belo, sensível  e puro e que não se encontra em nenhum  shopping, distantes de toda  a ideologia maniqueísta e castradora. Sendo  assim, que pulsem com mais energias os corações...”
E em suas páginas a Mirante zero trazia o lirismo poético de Cecília Meireles, Cassiano Ricardo e do poeta português José Gomes Ferreira. Outro destaque foi a página Seção – Abertura das Gavetas Reprimidas. Brincando com a chamada “abertura política” (nome que se deu ao processo de abrandamento da ditadura militar, processo esse iniciado em 1.974 e terminado em 1.985), a revista abria espaço para os inéditos ou iniciantes. O que acontece até hoje. No entanto nem só de lirismo era feita a revista. Abria espaço para outras artes como fotografia, ensaios literários e divulgação de eventos. Tentava de certa forma suprir o vazio deixado pela revista do grupo Picaré.
A edição seguinte, a de número um, já se incorporando como um veículo literário, anunciava-se como o novo rebento da literatura. E para demonstrar que não estávamos de brincadeira, Mirante publicou uma entrevista com Roldão Mendes Rosa, então professor da Faculdade de Jornalismo daUNISANTOS e crítico literário do jornal A Tribuna. Fernando Pessoa, Cruz e Souza e Torquato Neto eram divulgados além da reprodução dos primeiros e excelentes trabalhos de Araken Alcântara, fotógrafo santista, então praticamente iniciante. A revista prestou homenagem a Esmeraldo Tarquínio, político santista falecido no mesmo ano em que Mirante foi criada. E de quem me orgulho de ter desfrutado amizade.
Em sua edição de número dois, o formato da Mirante muda, torna-se menor para facilitar seu manuseio e apregoava um voo poético. Criada ao sabor do acaso e das circunstâncias, a revista em seu início contou com colaborações de pessoas fora do meio literário. Como no caso da professora Irene Gimenez (por onde andará?), na época professora de desenho da escola municipal Barão de Rio Branco, onde trabalhei como escriturário, que fez o desenho da capa da edição de número dois. Enfim,  aos poucos os primeiros colaboradores foram surgindo e em sua maioria eram amizades criativas e talentosas. Eis alguns nomes que deram suporte a esse período da revista: Sérgio Fabris, artista plástico, atualmente morando em São Paulo, onde mantém um ateliê na Vila Madalena. DaCosta, na época assinando como Osvaldo, artista plástico. Roberto Terpilauskas, desenhista de estilo refinado, mas que apreciava a simplicidade criativa da Mirante. Jô Blanco, Serí, Inês Moretti, Rubens Prata, Argemiro, Angel Caramez.
Mirante absorveu em suas páginas todos os poetas que foram do Picaré: Alex Sakai, Denise Gomes Gonsalves,  Edilza de Souza Fernandes,  Fausto José, Inês Bari, José Cândido, Orleyd Faia, Rafael Marques Ferreira, Sidney Sanctus, Vieira Vivo e lógico, até o papa do grupo, Raul Christiano Sanchez. A partir de 1.997 até 2.007, a revista foi editada em parceria com Cláudia Brino, na época minha esposa. Com nossa separação, Mirante voltou às minhas mãos de forma integral. E aconteceu  nela uma transformação radical:  mais páginas, tornou-se mais encorpada, colaboradores permanentes surgiram, entre eles André Azenha, Luciana Almeida, Carlos Gama, Igor Villa, Marcelo Rayel, entre outros. E um fato extremamente significativo: passou a contar com dois subeditores: Sidney Sanctus, responsável pela revisão dos textos e Palavras ao Leitor e Irene Estrela Bulhões, minha atual esposa, responsável pela diagramação e ilustrações, que deu à revista um visual mais elaborado e criativo.
Como é missão pra lá de impossível falar de cada uma das setenta e oito edições da Mirante neste pequeno espaço, só nos resta acrescentar que desde seu início até agora, ela sempre se caracterizou pela simplicidade,  com um  caráter mutante, privilegiando personagens olvidados pela mídia e dando espaço aos inéditos. E nesta edição de número 79, totalmente atípica, procuramos através da republicação de textos desde seu início, com nova roupagem, transmitir uma pequena pincelada do muito que já foi editado nestes trinta anos de práxis poética. 

_____________________________________________________________    Valdir Alvarenga

CAPA DA MIRANTE 30 ANOS


Narciso de Andrade na contracapa da Mirante 30 anos


ilustração de Osvaldo (Da Costa) - publicado na Mirante n° 6, e republicado na Mirante n° 79 - Retrospectiva 30 anos


Poema de Marcella Santos e poema de Benilson Toniolo


PENÚRIA

 

Ando com uma vontade

de espalhar-me no ar
em milhões de moléculas

pulverizar-me na atmosfera,
neutralizar-me com o vento,
fazer as pazes com o mundo.

A concentração de mim
que há em mim
anda a assolar-me,
adoecer-me.

Ando travando batalhas
comigo mesma.
Quando ganho, perco.

Morro por viver
E quando sobrevivo,
mato-me.

 



POEMA DE MARCELLA SANTOS / SÃO VICENTE
Mirante n° 73  – ano 2011
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 82

____________________________________________________________


BANQUETE

A palavra está servida!
Sentem-se todos à mesa,
Senhores poetas vivos
E mortos –se assim quiserem.
Mordam desta tenra carne,
Avancem, gris cavaleiros,
Sobre seus nervos e ossos,
Sorvam com sofreguidão
A cor chumbo do tutano
Na palavra oferecida.
Mas cuidado! Eis que a caça
Em alguns pontos está crua,
Deve ser melhor assada
Antes de levada à boca,
Pois se mal interpretada
(Ou melhor, mal deglutida),
Eis que ganha nova vida
Contra nós se manifesta
E  seremos nós, agora,
Pela palavra atacados.
E ela nos devorará
A cada um, sem clemência,
Sorvendo nossos neurônios,
Sugando nossas cabeças,
E oferecendo ao futuro
Nossa língua ultrapassada,
Nossos lábios indigestos,
Nossos rostos abismados,
Que nunca disseram nada.
Somos devorados vivos
Por nossa própria impotência.
Pronto! Eis que vence a palavra!
Jazemos todos ao chão
Sob, a mesa, só resíduos
Dos poetas que não fomos.
A todos nós resta apenas
Recolher nossos pedaços,
Contar os vivos e os mortos,
Maldizer os desertores
Que abandonaram a luta,
E recomeçar esta caça
Da  carne-bicho-palavra
Para matarmos a fome
Que a nós liberta -e apavora.





POEMA DE BENILSON TONIOLO / CAMPOS DO JORDÃO
Mirante n° 72 – ano 2011
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 81


Prosa Poética de Andréia Cunha


ANONIMATO

 

                 Anônimo  na vida e da vida. “Boa tarde, Boa Tarde”

Naquele dia seus olhos marejaram. Há muito não se sentia participante do mundo. Na condição de olhares alheios, era um invisível.

               Alguém o enxergara! E nem precisou mendigar dessa vez! Aquele sorriso angelical inundou seu dia de luz como se o sol pedisse licença para as nuvens  e não o impedissem de brilhar. Os amigos de praça também   responderam em longo comprimento de voz: taaaaaaaaaaaaaaaaarrrde”

                 Toda sua vida valeu no mundo alí.

                 Adentrou a sala na qual estavam os colegas de trabalho. Cumprimentou-os. Entretidos em seus casulos, a maioria não respondeu e, os que se dignaram, falaram entre os dentes um “tarde”  árido.

                 Cada qual em sua função fixava os olhos na atividade que deveriam exercer até o fim do dia. Tontos nos turnos. Turvos dos olhos e da alma.

Ao se uniformizar com a camiseta não se tornava. Deixava de ser o que era. Servia sorvetes mistos de um preço barato. Na    época de verão , era tal qual como a máquina que solidificava o creme  e era esparramado na casquinha. Não o percebiam, aliás nem a viam. Era apenas a  mão que entregava o objeto de desejo. Olhos tão frios quanto o creme que servia. O chão? Brilhava! Mármore de primeira. Até que foi olhada nos olhos.”Por favor, uma só de creme”... “Obrigada”

O olhar respondeu silencioso. Um contato divino foi restabelecido.

 



TEXTO DE ANDRÉIA CUNHA / SANTOS
Mirante n° 70  – ano 2010
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 80

Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva - ilustração de Igor Villa– página n° 79


Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – Prosa Poética de Maria Helena Bandeira – página n° 78


Poema de Jaime Bastos



Às vezes esqueço o meu lado animal.
Ele vem e se mistura com meu lado espírito
Em pleno coito e arranca uivos de terras e estrelas.
A lama de vidas me lambuza...
A soma de úmidos risos.


 POEMA DE JAIME BASTOS  / SÃO VICENTE
Mirante n° 65  – ano 2009
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 77

Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – Haicais de Paulo R. Rodrigues – página n° 76


Poema de Regina Alonso e poema de José Antonio Galati



CORPO E SILHUETA

E em mim mesmo
Medo e espanto
Entendimento do que então fugia?
A silhueta encaixada no meu corpo
Dorso curvado, braços caídos
Pernas imóveis

De mim mesmo eu me distanciava
Desejo de ser outro
Casulo novo
Larva adormecida

Mas do medo e do espanto
Surgem asas
E esvoaço percorrendo o espaço

Lá do alto vejo a minha sombra
E entendo

Retomo o velho corpo

E me desfaço


POEMA DE REGINA ALONSO / SANTOS
Mirante n° 64  – ano 2009
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 75

______________________________________________________

PESADELO

No mar sozinho afundei
E vi séculos de desgostos
E as mortes no meu rosto.

Carreguei areias e fiz estátuas
Alheio ao ar e ao vento
Perdi a cor e o movimento.

E em desespero esperei o certo,
Levando a esperança até o fim,
Desequilibrei as proas em mim.

Morri aguardando o infinito
E as ondas os meus olhos salgaram
E as minhas mãos os cegaram



POEMA DE JOSÉ ANTONIO GALATI / SANTOS
Mirante n° 63 – ano 2008
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 74

Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – Poema de André Azenha – página n° 73


Poema de Diana Sandes e poema de Riso Maria



Tentei a fotografia
à toa pelas
frestas das janelas
portas cada
mas que nada:
o tempo me
dribla eu
caio cansada
desisto do
olhar que sobrava.



POEMA DE DIANA SANDES  / RIO DE JANEIRO
Mirante n° 63  – ano 2008
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 72

____________________________________________________________


Amor é droga lícita,
não tem perigo amar
só quando não se quer largar
Larga-me
então divirta-me
com um Manolo Blahnik
Acompanhe-me:
Vodca, suco de pitanga,
licor de laranja
e gotas de limão



POEMA DE RISO MARIA / SÃO PAULO
Mirante n° 63 – ano de 2008
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 71

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – Poema de Kleber Dantas – página n° 70


Poema de Regina Azenha e poema de Barney Days


TUA VOZ

Tua voz é terna, como o cantar dos
pássaros,
é luz onde existir escuridão,
é brisa que acalenta,
é felicidade que faz pulsar um
coração...

Tua voz é doce como o mel,
é melodia que ecoa pelo ar,
é transparente como o azul do céu,
é esperança que me faz sonhar...

Tua voz tem maciez de veludo,
é beleza rara que surge sem se
esperar...
tua voz é um bálsamo para tudo,
tua voz... é sinônimo de paz!...


POEMA DE REGINA AZENHA / SANTOS
Mirante n° 59 – ano 2007
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 69

______________________________________________________________


NATA DO AMANHECER

O céu já está rosado
É o sinal da aurora
Tu levantas como uma”deusa”
E teus cabelos cacheados
Deitados em teus ombros
Mostram toda a tua beleza
No tom de brancura e pureza
És a mulher da cor da nata
Com a tua silhueta exata
Caminha pela floresta
Deixando os passarinhos a cantar
Tua alvidade não tem idade
E eu pergunto, a que me resta?
Fazer parte desta majestade
Com méritos, a ti pertence
Alteza das flores brancas nascentes!


POEMA DE BARNEY DAYS / SANTOS
Mirante n° 58 – ano de 2007
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 68

Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – Poema de Luciana Almeida – página n° 67


Poema de Isabelle D’Avila e poema de Irene Estrela Bulhões


Aos trancos e barrancos
Aos caras de concha
Às bichas de tamanco
Ao manco cego
Ao ego
Ao buraco do dente
Ao tênis sem meia
À enxaqueca
Aos ecos do ão do Lenine
Às sarjetas
Aos ratos
À puta que pariu

POEMA DE ISABELLE D’AVILA / SANTOS
Mirante n° 51 – ano 2005
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 66

________________________________________________________


DEPOIMENTO

Quem se pronuncia em profundos delírios
o segredo de seu coração,
em alguns momentos, torna-se o momento fosco.
Não consegue consertar as palavras,
não  consegue achar o caminho certo,
pois só vive de sonhos,
esquecendo que o último segundo,
em meia volta do mundo,
é uma vida inteira de imensa satisfação ...


POEMA DE IRENE ESTRELA BULHÕES / SÃO VICENTE
Mirante n° 50 – ano de 2005
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 65

Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – Poema de Carlos Gama – página n° 64


Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – Poema de Dimitri Isidoro – página n° 63


Poema de Claudio Ferreira e poema de Madô Martins


VOO SOLITÁRIO

Sigo na tarde cinzenta,
Errante por solitários ares,
Um prócito a grasnar seus pesares,
Um corvo, uma ave agourenta.
Ave retinta e excluída ,
Entre os pombos, sem ter muita guarida...

Chego em meu ninho desolado,
Só  a tristeza permanece ao meu lado,

A face do mundo me é séria
Na tarde que passa cinérea ...


POEMA DE CLAUDIO FERREIRA / CUBATÃO
Mirante n° 45 – ano 2004
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 62

_____________________________________________________________


COMO ÁGUA


ando em círculos,
enredada
nas lembranças do passado.
A  memória gira,
redemoinha,
mas não escoa para o esquecimento.
Ao contrário,
inunda a vida,
transborda na vontade
e depois permanece estagnada,
à espera do teu sopro



POEMA DE MADÔ MARTINS / SANTOS
Mirante n° 44 – ano de 2003
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 61

Poema de Maria José Goldschmidt e poema de Manoel Lins



MUTANTE


Ele chama-se Sereno
e é um convite para mergulhar em suas águas.

Tamarindo pronto para ser comido no oásis.

Volátil, tem um ninho de pássaros
ascendendo de suas mãos.       

Seu nome é Mel,
com extremo cuidado há de se visitar sua colméia.

Diáfano, não se presta a liames,
caminha sozinho na terra de Prometeu.

Entoando as sílabas do próprio nome – Irerê.

Seu nome é Ígneo
e tem uma chama acesa na ponta dos dedos.

EROS recuperado das trevas do amanhã.


POEMA DE MARIA JOSÉ GOLDSCHMIDT / SANTOS
Mirante n° 41 – ano 2003
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 60

______________________________________________________________


MEU PARAFUSO


Vou consertar minha
máquina
Vou colocar gasolina
Pra funcionar legal
Eu vou passar vaselina
O bicho tá engripado
Você tem que entender:
Pra deixar lubrificado
Eu vou passar dablo dê.
Um buraco espanado
Não fica fora de uso
Pra ficar bem ajustado
Eu coloco o meu
parafuso 


POEMA DE MANOEL LINS / SANTOS
Mirante n° 38 – ano de 2002
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 59

Poema de Marcelo Ferrari e poema de Antonio Alves de Souza



MORTE

O cheiro pútrido da morte me
Convence
O que mais poderia achar dela
Bela, sincera ou tenebrosa?!

Cada passo, cada metro sentido.
Sem enxergar o espaço percorrido.
Ao menos,correndo para a vida
Ao menos, correndo para a morte.

Como um copo de vinho tinto
Teu sangue está na taça,
Borbulhando
Cheiro fétido de suas veias
Aí, você pode ver, a morte
Aproximando

Chega de flores e perfumes
Chega do que é belo, pois não é
Nada mais belo, não acredito
Prefiro o silencio, do que esse mundo nojento



POEMA DE MARCELO FERRARI / SANTOS
Mirante n° 37 – ano 2002
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 58

___________________________________________________________


PINGADOS

Cafés... pães... e mãos
No leite, na faca... na fome
Rangem os pés, as cadeiras
açúcar, leite, torresmo... ovos ?
Colheres na mesa, olhares mornos
Ah ! Manteiga... que fome!
Pinga o leite... pinga o café
está muito quente? Sai
Da frigideira pão na manteiga
Gostoso !
Passa a faca... passa o leite
Passa a mão, torrados pães
lábios fumegantes... canecas
acabou o café ... acabou o pão
Foi-se o leite, mãos lambuzadas
Ficou a fome!



POEMA DE ANTONIO ALVES DE SOUZA / SANTOS
Mirante n° 36 – ano de 2001
Revista Mirante n°79 – 30 anos – Retrospectiva – página n° 57