A LITERATURA MARGINAL OU INDEPENDENTE
EM SANTOS
Grupo Picaré
Marco e ruptura na literatura
santista
Tudo começou a germinar no ano de
1979, com Raul Christiano Sanchez e Rafael Marques Ferreira discutindo a
literatura santista e intencionando caracterizá-la regionalmente, destacando a
poesia caiçara, litorânea. E para tanto, escolheram o termo “picaré” - objeto
utilizado pelos pescadores - uma rede
de arrastão. Formou-se
então,
Formou-se então, um núcleo de
escritores, de cunho antiacademicista, trazendo propostas várias para agitar a
cidade. Seguiam a trilha aberta, da literatura alcunhada de marginal,
independente ou alternativa, criada à margem dos esquemas convencionais de
edição e comercialização de livro no país, que era completamente inacessível ao
autor novo. Como forma de aproveitar essa abertura e preencher a lacuna, os
textos eram distribuídos aos alunos da Faculdade de Comunicação, em Santos. Era
a busca do contato direto com o leitor, e isso foi apenas o começo. Um outro
instante do grupo, a sua segunda fase, aconteceu entre julho e outubro de 1980
Embora se constatasse o surgimento
de novas cabeças, teve pouca atividade, excetuando-se o lançamento do livro de
Raul Christiano “Vitória” e o terceiro número do tablóide “Picaré”, impresso em
gráfica. Já a terceira fase, marcou definitivamente o grupo Picaré, na história
da literatura santista. O marco inicial foi a Feira de Literatura Independente
- em 1981 - onde a poesia tomou conta do foyer do Teatro Municipal de Santos,
por uma semana, com mostras de livros, varais de poesia, recitais e mesas
redondas. Escritores de Sampa e de outros Estados apareceram e era possível
encontrar obras de Nicolas Behr, Alcides Buss, do saudoso Antonio Carlos Lucena
(Touchê), Ulisses Tavares, Glauco Mattoso, Ricardo Soares (recentemente
apresentava um programa literário na TV
Senai), entre tantas outras. No final do evento, a apoteose: Santos, cidade de
memoráveis passeatas de reivindicações políticas e estudantis, pela primeira
vez em sua história, assistiu uma passeata poética, que seguiu pela avenida Ana
Costa, rumo à praça Independência. Eram jovens, portando faixas e cartazes com
as frases: cutuca meu bem cutuca - anistia para o prazer - arte na rua -
Oswald, Pagu e seus Capangas, Salve 22!!! - Ame e dê Vexame (nome do livro de
José Cândido, um dos mais criativos integrantes do Picaré). Aí, a coisa não
parou mais. A maturação da convivência dos escritores, deu seu fruto maior: a
antologia poética “Uma dúzia de Poetas”. Dela, além dos já citados, aparecem
Antonio Canuto, Edilza de Souza, Sergio Marques Ferreira, Orleyd Faya, Fausto
José, Vieira Vivo, Inês Bari, Sidney Sanctus e este que escreve estas linhas.
Nome de destaque do Picaré, embora não tenha participado na coletânea, foi Alex
Sakai, cujo poema causou polêmica que mereceu até coluna crítica de Roldão
Mendes Rosa, no jornal A Tribuna. Outra obra merece citação: “A produção
independente na literatura” - catálogo para o movimento, produzido por Raul
Christiano. Livros são lançados num ano fértil: “Plenilúnio”, meu primeiro
livro; Sol da Noite, de Inês Bari; Caosurbanocromia, de Sakai e Fruto Futuro,
de Canuto. E como tudo - na vida - que começa tem um fim, o grupo Picaré
encerrou suas atividades pesqueiro-poeticas, mas seu espírito continuou e
continua através de Mirante. Mas isso é outra história, que fica para outra
hora.
______________________________________________________________ Valdir Alvarenga
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